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Real Digital e o panorama global do sistema financeiro na Febraban Tech 2023

by mariliabafutto

O Real Digital foi tema destaque na Febraban Tech 2023. A palestra “Real digital e o futuro do sistema financeiro”, ministrada por Rodrigoh Henriques, Diretor de Inovação da Fenasbac, chamou atenção na Febraban Tech 2023, por sua abordagem de forma abrangente sobre as transformações que a tecnologia está promovendo no setor financeiro. 

Já na palestra “Real digital e o Brasil no mapa das tokenizações”, foram abordados diversos aspectos relacionados à implementação do Real Digital e sua integração com a economia tokenizada. Os palestrantes discutiram questões regulatórias, inovação, formação de mão de obra, educação financeira e desafios de usabilidade nesse novo cenário.

Neste artigo, exploraremos os principais pontos discutidos nas palestras e como eles afetam o Brasil e o restante do mundo.

Leia também: CBDCs: uma jornada pela revolução dos pagamentos na Febraban Tech 2023

O panorama global das CBDCs e suas abordagens

No cenário internacional, vários países estão desenvolvendo suas próprias moedas digitais emitidas pelos bancos centrais (CBDCs). Henriques destacou exemplos como China, Estados Unidos, Tunísia e Canadá, cada um com abordagens e objetivos específicos.

No caso da China, a iniciativa privada dominou o setor de pagamentos instantâneos, gerando preocupações com a estabilidade do sistema financeiro. Diferente da CBDC brasileira, a abordagem chinesa levanta questões sistêmicas que podem comprometer o acesso ao pagamento em caso de falhas em uma das empresas privadas envolvidas.

Saiba mais: China dá novo impulso ao yuan digital 

Já nos Estados Unidos, apesar de sua economia extremamente avançada, o sistema financeiro não acompanha o mesmo ritmo. O lançamento do FedNow, projeto semelhante ao PIX brasileiro, é uma tentativa de modernização. 

Além disso, os EUA também estão considerando a implementação de uma CBDC focada em pagamentos internacionais, com o objetivo de preservar o padrão internacional do dólar e evitar a perda de participação no mercado global.

A Tunísia, por sua vez, busca resolver desafios específicos relacionados à transferência de reservas entre bancos. Ao criar uma estrutura que permite aos bancos trocar acertos e utilizar ferramentas de pagamento similares a DOC e TED brasileiros, o país busca melhorar seu sistema financeiro.

O Brasil e a inovação no sistema financeiro

No contexto brasileiro, o Banco Central (BACEN) está lançando desafios para buscar novos modelos de negócios que possam ser viabilizados com a adoção de uma moeda digital. O momento atual é marcado pela tentativa de registrar todos os ativos financeiros, permitindo que eles possam ser tokenizados.

Essa abordagem traz inúmeras possibilidades, como a criação de representações digitais de ativos físicos, permitindo sua negociação no ambiente digital. Por exemplo, é possível criar um token para representar um par de tênis da Nike, no qual o proprietário do token também detém os direitos sobre o tênis físico.

Além disso, a tokenização também permite a criação de ativos digitais exclusivos que podem ser negociados. O exemplo dado na palestra é a emissão de um “DUT” (Documento Único de Transferência) de um carro em formato digital, acompanhado de um “gêmeo digital” tokenizado. Essa abordagem abre portas para novas possibilidades no Brasil.

Outra questão importante é a necessidade de uma moeda digital que opere na mesma rede dos negócios, proporcionando segurança e transparência nas transações. 

Novos modelos de negócio e inclusão financeira

Diante dessas oportunidades trazidas pelo Real Digital e pela economia tokenizada, surgem novos modelos de negócio e a possibilidade de inclusão financeira. 

A palestra abordou o desmembramento de serviços financeiros, como o open banking e o open finance, que permitem que uma pessoa solicite e adquira crédito em diversas instituições financeiras diferentes, descentralizando o crédito e rompendo com a ideia de uma única instituição financeira vinculada.

Essas inovações não apenas possibilitam a criação de negócios inovadores, mas também abrem caminhos para uma maior inclusão no sistema financeiro. Por meio de soluções digitais e tokenizadas, é possível oferecer acesso a serviços financeiros para pessoas que antes estavam excluídas do sistema.

À medida que os países avançam em direção à emissão de suas próprias moedas digitais e à tokenização de ativos, novos modelos de negócio surgem, possibilitando maior inclusão financeira e abrindo caminhos para uma economia mais dinâmica e conectada. 

É essencial que as empresas e instituições financeiras estejam atentas a essas mudanças e se preparem para o futuro, explorando as oportunidades oferecidas pela economia tokenizada e pelo Real Digital.

Implementação e economia tokenizada

Thamilla Talarico, da EY Brasil, destacou a importância da simetria regulatória e do respeito à legislação existente na adoção do Real Digital. Ela ressaltou a necessidade de testar a privacidade e a programabilidade da moeda digital, levando em consideração diretrizes como a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).

Jayme Chataque, do Santander Brasil, enfatizou que a plataforma do Real Digital é multiativa e busca abranger não apenas a moeda digital, mas também a tokenização de outros ativos. Ele mencionou a tokenização de valores mobiliários regularizados pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), mostrando o potencial de integração de diversos ativos digitais nessa plataforma.

Leandro Vilain, da Oliver Wyman, ressaltou o desafio da formação de mão de obra no Brasil para lidar com as novas tecnologias. Ele destacou a importância da clareza e transparência nas diretrizes estabelecidas pelo Banco Central, levando em consideração a legislação existente, como a LGPD, e preservando o sigilo bancário.

Fabio Araujo, do Banco Central, salientou a necessidade de aprendizado e capacitação em relação às novas tecnologias. Ele mencionou a expertise acumulada pelo Banco Central no desenvolvimento do PIX em um curto período, mas destacou que a tecnologia DeFi (Finanças Descentralizadas) exige uma mudança de mindset e um entendimento mais profundo da programação.

Larissa Moreira, do Itaú Unibanco, abordou os ciclos de aprendizado intrínsecos à tecnologia. Ela destacou a importância da representatividade feminina e da diversidade na liderança e no desenvolvimento de modelos de negócio que sejam inclusivos e façam sentido para o futuro. Moreira também mencionou o desafio da usabilidade, enfatizando a necessidade de melhorar a experiência do usuário e a interface do usuário (UI/UX) no mundo cripto para atrair o público.

Educação e inclusão financeira

Thamilla Talarico, da EY Brasil, retomou o tema da educação financeira como um objetivo fundamental da economia tokenizada e do Real Digital. Ela enfatizou a necessidade de democratizar o acesso não apenas a transações, mas também a investimentos e outros produtos e serviços financeiros, destacando que isso só pode ser alcançado por meio da compreensão dos benefícios dessas tecnologias, mesmo sem um entendimento aprofundado de blockchain e smart contracts.

Os palestrantes concordaram que a educação financeira é essencial para que as pessoas se sintam à vontade para explorar e experimentar os novos modelos proporcionados pela tokenização de ativos. Eles ressaltaram a importância de educar os usuários sobre os riscos envolvidos e fornecer uma experiência simples e clara, sem a necessidade de compreender completamente a infraestrutura subjacente.

A implementação do Real Digital e a integração com a economia tokenizada têm o objetivo de democratizar o acesso aos serviços financeiros, mas é fundamental encontrar um equilíbrio entre a democratização e a adequação (suitability), garantindo que as soluções sejam seguras e adequadas para cada perfil de usuário.

Essas palestras destacaram a importância do Real Digital e da economia tokenizada para o Brasil, ressaltando as oportunidades, desafios e a necessidade de adaptação e aprendizado contínuo por parte das instituições financeiras, empresas e usuários finais.

A transformação do sistema financeiro está em curso, e o Brasil busca se posicionar no mapa das tokenizações, acompanhando as tendências globais e explorando as possibilidades oferecidas por essas inovações.

Continue acompanhando o blog da idwall para cobertura dos temas abordados na Febraban Tech 2023.

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