Com a propagação acelerada de tecnologias disruptivas, como a Inteligência Artificial generativa, a governança de dados e o uso ético das informações se tornam temas centrais das estratégias das instituições financeiras.
Afinal, ao mesmo tempo em que se evoluem as inovações, cada vez mais é necessário garantir a segurança e proteção dos dados, assim como promover a confiança dos usuários em como suas informações são tratadas pelas instituições.
No 3º dia de Febraban Tech 2023, nesta quinta-feira (dia 29 de junho), um dos assuntos principais foi inteligência artificial, análise e governança de dados.
No painel “Data driven, IA generativa e os algoritmos da economia digital”, Caio Rocha (Serasa Experian), Daniela Griecco (NTT DATA Brasil), Laila Kurati (Santander) e Moisés Nascimento (Itaú Unibanco), com mediação de João Borges (Febraban), abordaram este cenário.
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O que você vai conferir:
Dados e IA no centro do negócio
Moisés Nascimento, Chief Data Officer (CDO) do Itaú Unibanco, destacou a importância de aproveitar melhor os dados: “Criamos uma estratégia que inclua os dados e IA no centro do negócio. O grande diferencial competitivo para usar melhor os dados e produzir novos produtos e melhores serviços está na velocidade e agilidade de utilização dos dados. Isso sem perder de vista a governança, a privacidade e a segurança.”
Para Laila Kurati, líder de Data Strategy & Management do Santander, é fundamental estruturar a área de dados para oferecer serviços melhores para os clientes e ter um alicerce para a implantação de todo o potencial da IA, já que a própria inteligência artificial, por meio de machine learning, consegue acelerar o trabalho de aprendizado com aquelas informações.
Sobre os principais desafios envolvendo esse assunto, Daniela Griecco, head of data analytics da NTT Data, comentou que o foco é integrar a questão de dados com todo o parque tecnológico e falar de IA no campo dos negócios.
Confiança e governança de dados
Segundo a executiva do Santander, a governança de dados passa por uma série de passos, incluindo a organização dos dados, a gestão do acesso às informações, o cuidado com a classificação de confidencialidade, as informações sensíveis, entre outros.
“O controle dessas informações garante que as pessoas tenham acesso a um dado correto, de qualidade, e que ele seja utilizado por qualquer prestador de serviço. A organização é o trabalho estruturante e é o maior desafio do processo. Uma informação boa, atualizada e qualificada vai virar uma decisão boa”, disse Laila.
Além disso, ela acrescentou a importância da qualificação do dado na relação com o consumidor: “Um dado bom significa governança, informação atualizada, apurada, e garante a confiança com consumidor ou com a empresa que depositou a informação.”
Moisés Nascimento, do Itaú, também explicou como a governança está sendo aplicada na estrutura do banco: “Colocamos a governança na nossa plataforma para fazer com que os dados fiquem integrados na área de negócios, gerando informações sobre os clientes. Quanto melhor organizado o dado está, quanto mais automatizado o acesso está, mais rápido conseguimos entregar produtos inteligentes para os clientes.”
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Futuro dos dados, da IA e dos negócios
O executivo do Itaú acrescentou que a quantidade e a velocidade de dados processados vai continuar aumentando daqui em diante e destacou. “A economia baseada em algoritmos deve seguir evoluindo. Vamos ver mais empresas usando IA no seu core business. Tudo isso passa pela aplicação inteligente de tecnologia, mas também por um plano de negócios incluindo IA e dados.”
Para Laila Kurati, com tecnologia e negócios trabalhando juntos, a economia digital pode ser potencializada pelo uso de dados e IA. “É possível conhecer melhor o consumidor, trazer relevância para o cliente e resolver o problema de crédito da forma que for mais conveniente para ele. Será possível cada vez mais ter essa inteligência”, afirmou.
Por fim, Daniela Griecco, da NTT Data, observou que as empresas precisam se preparar para o crescimento exponencial no volume de dados a ser processado, melhorando sua capacidade de coleta e armazenamento. “Existem dados vindos de diversas formas. Nunca podemos tratar os dados de forma isolada. Eles devem ser tratados como core business, tocando a estratégia”, declarou.
Uso ético dos dados
Ainda no tema da governança de dados, abrigando os dados e a Inteligência, o painel “A ética digital e o desafio da governança dos dados” contou com a presença de Jardel Luis Carpes (Caixa), Marcela Vairo (IBM Brasil), Miriam Wimmer (ANPD) e Patricia Peck (Peck Advogados ), com mediação de Crisleine Yamaji (Febraban).
Para a diretora da ANPD, existem órgãos e empresas com diferentes graus de maturidade em relação à governança de dados, mas o mercado está avançando com maior conhecimento do assunto. “Em cinco anos temos uma autoridade constituída e à medida que ela evolui, isso contribui para o aumento da segurança jurídica e compreensão da temática. A ANPD tem adotado postura para educação e conscientização”, disse.
Inclusive, para Patricia Peck, CEO da Peck Advogados, se as instituições já tivessem uma governança de dados estruturada, a implantação de legislações seria mais fácil e mais simples. O problema é que muitas empresas nem sabem os dados envolvidos em sua operação.
Diretor-executivo interino de Riscos da Caixa Econômica Federal, Jardel Luis Carpes acredita que o mercado bancário saiu na frente de outros segmentos em relação à governança de dados e às regulações: “O setor financeiro parte de uma regulação muito grande. São as regulamentações implementadas pelo Banco Central. A indústria financeira é dependente de dados e precisa fazer essa governança de forma correta. E agora a LGPD traz um olhar um pouco diferente.”
Com dados mais dispersos dentro e fora das empresas, a diretora de Dados, IA e Automação da IBM Brasil, Marcela Vairo, ressaltou a importância do cuidado com o acesso de fornecedores. “É preciso de um framework que garanta a segurança desse dado e o acesso do dado onde quer que ele esteja. A tecnologia ajuda muito pensando no volume de tráfego e tudo que precisamos fazer com dados. Mas não existe uma solução única para todos os desafios”, explicou.
Pilares do uso seguro de dados
Aproveitando o gancho, o executivo da Caixa listou os principais pontos para promover a proteção no uso de dados.
“A segurança da informação evita que dados cheguem às mãos de pessoas que não deveriam ter acesso a esses dados, o que já fazia parte do dia a dia do banco. A governança de dados estabelece a verificação de dados de acordo com a LGPD e foi a parte mais trabalhosa. Afinal, não é fácil conseguir mapear os dados tratados, de que forma são tratados, por quem, se há compartilhamento, se há finalidade específica, hipótese legal etc. Por fim, o compartilhamento de dados tem a ver com os cuidados com as fronteiras de dados”, comentou.
Uso ético da Inteligência artificial
Além da ética e da governança de dados, agora com o crescimento da IA, como fazer o uso dessa tecnologia de maneira correta? Miriam Wimmer, da ANPD, reforçou a necessidade de considerar os direitos dos titulares a acesso ou revisão de decisões automatizadas por IA. “Não é um debate encerrado, porque não há resposta única”, lembrou a diretora, ressaltando que ainda falta uma discussão mais profunda sobre o tema.
Ao mesmo tempo, Marcela Vairo trouxe números de uma pesquisa da IBM, em que 80% dos CEOs reconhecem a importância de uma IA ética, ainda mais em tempos da IA generativa. Para a executiva, o uso ético passa pela preocupação com os dados dos clientes, o monitoramento de vieses e a garantia de confiança por meio de tecnologias fortes o suficientes.
Marcela ainda abordou o conceito de “ethics by design”, adotado na IBM. “Esse framework garante que a tecnologia deve melhorar a inteligência humana e produzir resultados positivos. Se a tecnologia tiver um impacto negativo, ela é suspensa”, concluiu.
Por sua vez, Jardel Carpes, da Caixa, salientou a importância de ser privacy by design, ou seja, colocando a privacidade, a ética, a proteção e a governança de dados desde a concepção de um produto, serviço ou tecnologia. Na visão dele, privacy by design é mais vantajoso financeiramente.
“É mais eficiente e você consegue ganhar dinheiro e perder menos dinheiro com isso. Quanto mais demora para você adotar uma mudança, mais essa mudança custa e menos eficiente o projeto se torna. Toda vez que for lançar um produto e for pensar em privacidade e tratamento de dados só no final, com certeza você terá um dispêndio muito grande e vai gastar mais dinheiro”, finalizou.
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